top of page

#Acredite, de Eliane Quintella | RESENHA

  • Foto do escritor: L. S. Almeida
    L. S. Almeida
  • 23 de dez. de 2019
  • 4 min de leitura

A resenha da vez é sobre uma obra vencedora do The Wattys Awards – uma premiação da plataforma digital Wattpad reconhecida como “Oscar da literatura online” – no ano de 2018, na categoria “The Heartbreakers”.

A resenha de hoje é do livro “#Acredite” da autora Eliane Quintella!



De início, conhecemos Pamela e Raul, dois jovens que se apaixonam, mas que precisam lidar com a impossibilidade de estarem juntos e permanecerem felizes e acolhidos pela sociedade. A problemática da trama encontra-se na segregação ferrenha do universo mágico que os envolve: o conflito entre Braites – mágicos poderosos que dominam alta magia através de seu estado emocional suave e sem qualquer negatividade – e Lalulis – mágicos considerados inferiores por sentirem intensamente e sem restrições as emoções negativas, o que influencia diretamente na escassez de seu desempenho com a magia.

Braites e Lalulis não podiam conviver como um só povo (muito menos se casarem), pois a crença popular pregava que os Lalulis sugavam a energia dos Braites, fazendo com que os mesmos perdessem sua magia e fossem destituídos do título de Braite, o que acarretou em várias consequências emocionais, econômicas e sociais para os Lalulis, incluindo sua marginalização e perda de igualdade entre os Braites.

Pamela (uma Braite) e Raul (um Laluli), ao longo da trama precisam lidar com as barreiras impostas pela sociedade ao sentimento que nutrem um pelo outro e lutar contra o sistema, que por sua vez trabalha para os separar cruelmente.

A princípio, não consegui me conectar inteiramente com o universo, muito menos com os personagens. Tudo parecia um pouco vazio e sem vida, talvez pelo fato de eu não ter uma relação muito boa com clichês. O primeiro contato direto da Pamela com o Raul, a forma como se conectaram, o andamento do relacionamento deles não me agradou, pois tudo ocorreu muito rápido, muito exasperado e aparentemente precipitado. Mas conforme a estória tomava tons próprios e únicos, fiz as pazes com os personagens e com o universo. Aos poucos, os elementos da trama não me davam mais incômodo ou desconforto e pude me permitir adentrar completamente no universo da obra de Eliane Quintella.

A escrita da autora é simples e excelente para o público jovem, poupando excessos e focando no essencial, ou seja, no relacionamento de Pam e Raul, na problemática da trama e na mensagem que Quintella planejou passar. No entanto, por evitar excessos, por vezes senti falta de descrições mais detalhadas do ambiente e dos personagens, o que pode gerar uma certa dificuldade para alguns leitores se conectarem inicialmente com os conflitos dos protagonistas. E por não haver melhor norteamento na passagem de tempo entre os acontecimentos (apenas algumas poucas menções), manteve-se a sensação (pelo menos para mim) de que os acontecimentos se desenrolaram da noite para o dia, dificultando o processo de conexão entre leitor e estória.

Contudo, a obra de Eliane Quintella, por ter uma linguagem simples torna-a mais acessível para o público geral e principalmente para as novas gerações que possuem dificuldades para se inserirem no hábito de ler.

“#Acredite” é uma obra simples, mas que possui belos ensinamentos. A divisão das classes sociais, o preconceito escancarado (e velado) dos governantes e da população, a priorização do dinheiro e dos bens materiais (que neste caso pode ser simbolizado pela magia) e a marginalização do amor verdadeiro em contraste com a exaltação de uma carreira profissional. Todos esses assuntos são discutidos através do véu fantasioso e atrativo destinado ao público juvenil e que pode gerar muitos debates e reflexões riquíssimas. Mas essas não são as únicas mensagens inseridas no livro de Quintella.

Além do viés social, “#Acredite” transmite muitas outras mensagens importantes. Inclusive me abriu os olhos para o fato de que eu tinha me tornado uma autêntica Braite. Não pelas ótimas condições econômicas, muito menos pelas roupas coloridas ou pela magia em si, me vi como uma Braite por estar constantemente me privando de viver a vida intensamente. Eu estava presa em ideologias sem sentido, evitando as mais diversas formas de sentir o mundo com a finalidade de me privar das decepções que a vida poderia me proporcionar. Me dedicava tanto aos livros e aos estudos quanto um Braite se dedicava à sua magia. Me trancafiava em um mundo perfeito moldado por mim e para mim, vivendo a ilusão de estar em uma bolha social e sentimental, onde nada podia me afetar, me atingir, me quebrar. Mas essa mesma bolha que me transmitia a sensação de estar em segurança, também me fazia permanecer em um looping de sofrimento e de diversos complexos emocionais.

Com o tempo, o universo suave que eu chamava de lar começou a desabar sob os meus pés, ele deixou de ser suficiente, deixou de me transmitir satisfação. E quando finalmente senti pela primeira vez em muitos anos a intensidade dos raios de sol na minha pele, não apenas uma luz morta e filtrada pelo vidro da janela, enxerguei que não me conhecia, que não me amava, que não crescia, que não vivia. Eu estava estagnada. E infeliz. Infeliz por ter me privado das tristezas da vida.

“#Acredite” foi definitivamente um marco na minha vida, uma forma de deixar aquele velho ciclo para trás e iniciar uma nova era, um novo capítulo em minha história. A obra de Quintella me inspirou a acreditar mais em mim mesma e menos no que as outras pessoas pensam a meu respeito. Me ajudou a silenciar meus complexos e me permitir viver um pouco como Laluli para me redescobrir e finalmente conhecer essa pessoa excêntrica que sempre morou dentro de mim e que foi por muitos anos ocultada por uma máscara abstrata.

Ler “#Acredite” foi uma incrível experiência pessoal, me trouxe evolução e me ajudou a deixar para trás uma etapa difícil da minha trajetória. Contribuiu para que eu voltasse a acreditar no amor, nas pessoas, na vida e na função de catarse das decepções e dos momentos difíceis.

Fica aqui a minha eterna gratidão pelo excelente trabalho da autora e pela oportunidade concedida para realizar esta bela parceria. Obrigada, Eliane Quintella, desejo que sua obra ganhe o infinito na literatura brasileira e que outras pessoas tenham a mesma oportunidade que eu tive:

Ser transformada pela literatura.















































Perfil da autora no Wattpad: https://www.wattpad.com/user/ElianeQuintella


O que acharam da resenha? Feedbacks sempre serão bem-vindos!

Não esqueçam de conferir a obra literária resenhada e boas festas a todos!



Comments


Post: Blog2_Post

©2018 by Bruxa Literária. Proudly created with Wix.com

bottom of page