Prove que não é um robô, de Noemi Nicoletti | RESENHA

L. S. Almeida
19 de mar. de 2019
4 min de leitura

Saudações bruxos e feiticeiros! Preparados para mais uma resenha?

A obra de hoje é um conto de uma autora talentosíssima. Não é a primeira obra que leio dela. Já tinha lido dois contos e um romance da autora. Ela possui uma escrita deliciosamente poética e julgo ser uma das autoras mais talentosas do Wattpad Brasil. Estou falando de Noemi Nicoletti (ou Mima Pumpkin) e seu conto "Prove que não é um robô"!

FICHA DO LIVRO

Título: Prove que não é um robô;

Autor(a): Noemi Nicoletti (ou Mima Pumpkin);

Plataforma: Wattpad;

Avaliação: Cinco caldeirões!

O conto é sobre duas irmãs, Rafaela — a caçula — e Renata, que embora tenham o mesmo sangue circulando em suas veias, são duas almas muito diferentes. A mais nova ama saltos, minissaia e bolsas caras, enquanto a mais velha nunca deixa de ter um bom livro escondendo seu rosto enquanto anda pelas ruas e jamais despreza uma boa poesia.

Rafaela alimenta uma paixão platônica por Vinícius, um sujeito aparentemente perfeito e que possui um fã clube repleto de adolescentes e mulheres maníacas pela atenção do garoto.

Certo dia, após lidar com a falta do pai para levá-las ao colégio com seu velho carro, as duas irmãs são obrigadas a caminharem até a instituição. Após um incidente que resultou na queda humilhante de Rafaela, a vida resolve tomar uma reviravolta para a menina quando o garoto de seus sonhos lhe manda uma mensagem.

Com o objetivo de causar uma boa impressão, Rafaela recorre a Renata, implorando para a irmã mais velha se passar por ela para impressionar o garoto com sua habilidade com as palavras.

O que poderia dar errado, não é mesmo?

Primeiramente, a premissa me agradou no momento que li a sinopse. Ao contrário do que imaginei, as irmãs Rafaela e Renata não são aquela velha fórmula clichê de irmãs totalmente opostas, são personagens que me cativaram imensamente e que, mesmo com suas diferenças, possuem muitas semelhanças. Então desejo parabenizar a autora por esse feito, afinal, não é uma tarefa fácil criar personagens dignos de fascínio e admiração dos leitores, principalmente em contos, que são narrativas breves e limitadas.

O conto possui uma bagagem imensa de referências à obras e autores. Renata é admiradora de Jane Austen, Shakespeare e Emily Dickinson, e no decorrer da trama, há várias citações de poemas e obras de tais autores. Isso enriquece imensamente o texto de Noemi Nicoletti, trazendo uma narrativa poética e dramática, digna de adolescentes como Renata.

E falando em drama, devo ressaltar que Renata é uma personagem encharcada deste intenso conceito. Entretanto, mesmo contendo excessos em sua dramatização, ela não se torna uma personagem menos fascinante.

Rafaela, – que por vezes é ofuscada pela inteligência da irmã – embora em alguns momentos demonstra ser rebelde e superficial em vários sentidos, não deixa de ser uma personagem digna de admiração, afinal, mesmo não sendo tão inteligente quanto Renata, Rafaela por vezes exteoriza pensamentos profundos, embora na maior parte do tempo cuide muito de sua imagem e só queira aproveitar a sua juventude em amores rasos (isso pelo menos no início da narrativa).

Os traumas e o passado dos personagens — principalmente de Renata — são apresentados aos leitores aos poucos. Então conhecemos suas motivações e seus desejos.

Algo digno de ser ressaltado é o fato de que a autora une conceitos literários e filosóficos aos inerentes ao século XXI (como a tela da morte), o que contribui para uma narrativa com um toque de humor e profundidade.

Nicoletti não escreve somente o comum da ficção-adolescente, ela reinventa sua narrativa com uma dose de pensamentos poéticos (isso se reflete em "Sons de Ferrugem & Ecos de Borboleta" — uma das obras de mais prestígio da autora), além dos dramas juvenis corriqueiros, ela traz consigo reflexão e poesia, arte e filosofia. E sim, sou suspeita para falar das obras de Noemi, já que sou fã de carteirinha.

Outro fato notável foi como Noemi construiu a personagem Renata. O conto foi escrito em primeira pessoa, ou seja, conhecemos Renata – a narradora – de forma mais íntima. Logo de cara percebemos o quanto a narradora é inteligente. No entanto, Renata não dizia o quanto era inteligente, ela o demonstrava através de suas reflexões, falas e leituras. Com toda certeza, isso trouxe autenticidade para a personagem e para o conto em si. Sei o quanto é difícil construir um personagem verdadeiramente inteligente e que irá convencer o público. Sendo assim, Noemi Nicoletti merece aplausos por essa grande façanha!

O plot twist do conto me pegou de surpresa. Ele teve um grande impacto, assim como toda a narrativa de Noemi (sem falar das finalizações dos capítulos, cada uma contendo seu peso). Os acontecimentos que fazem parte da reviravolta dão cambalhotas em nossas expectativas e o toque poético e repleto de referências deixa a aura do conto fascinante.

Em suma, "Prove que não é um robô" fala sobre identidade dos adolescentes deste século, assim como a identidade por trás das telas de computadores e smartphones, sobre as expectativas que depositamos sobre as pessoas (e como elas podem ser tragicamente frustradas), sobre a simplicidade e complicações da vida e dos relacionamentos (e como tais complicações poderiam ser resolvidas facilmente), sobre perdão, superação de traumas passados e de como o amor possui as suas loucas reviravoltas e seus próprios plot twists.

"Prove que não é um robô" tem uma escrita leve e poética. O conto é indispensável para o público jovem e serve de reflexão para a fase mais complicada, dramática e incerta de nossas vidas.